Senado pede para presidente interceder em favor de brasileiro preso há quase três anos sem julgamento nos EUA
Arquivo Pessoal
Vestido com a “amarelinha”, o brasileiro Ricardo Azevedo aparece com os três filhos
Em tempos de “faxina” contra a corrupção, a terceira mulher mais poderosa do mundo ganhou um abacaxi diplomático para descascar. No início deste mês, por meio do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o Senado Federal fez um apelo para a presidente Dilma Rousseff (PT) intervir em um caso delicado e com suspeita de xenofobia.
O comunicado oficial levado à presidente e assinado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) revela um controverso imbróglio jurídico envolvendo a Justiça norte-americana e o ex-modelo brasileiro Ricardo Azevedo Souza Costa, de 39 anos. Ele está preso há dois anos e oito meses numa penitenciária do Arizona, um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos, sem ter sido julgado.
Com uma fiança estipulada inicialmente em R$ 120 milhões em dinheiro vivo (a maior que se tem notícia na história do judiciário americano), Ricardo é acusado pela ex-mulher, a norte-americana Angela Denise Martin, de 49 anos, de ter molestado e abusado sexualmente dos próprios filhos. A denúncia, contudo, foi feita um ano depois da separação do casal, em meio a um processo de divórcio litigioso. Para parentes e amigos, Ricardo seria vítima de xenofobia.
No pedido para a presidente Dilma, Suplicy conta que a Justiça americana já adiou o julgamento de Ricardo por diversas ocasiões. De acordo com o próprio brasileiro, foram quatro adiamentos.
O senador petista sugeriu que Dilma aproveite a viagem que fará aos Estados Unidos no próximo mês para tratar publicamente do caso. Em setembro, ela vai se encontrar com o presidente Barack Obama para participar da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
“Tomei conhecimento do caso pelos familiares do Ricardo. Desde então temos tentado ajudar. A última tentativa foi o pedido endereçado ao ministro Patriota. Mencionei isso no ofício (pedido de ajuda da presidente Dilma), mas até o momento não obtive resposta do ministro”, declarou o senador ao Hoje em Dia na última sexta-feira.
A prisão do brasileiro foi decretada com base em um laudo emitido por uma psicóloga que, dias depois, perdeu a licença para trabalhar sob a acusação de fraude.
Ricardo sempre negou a acusação e sustenta que só foi denunciado porque a ex-mulher não se conformou com o fim do casamento.
Depois de vários pedidos de revisão para marcar o julgamento e rever a fiança, a Justiça do Arizona tomou duas decisões na última semana. Modificou o valor da fiança, que baixou de R$ 120 milhões para R$ 3,2 milhões. E, finalmente marcou a data do início do julgamento para 30 de novembro deste ano.
Apesar da queda abrupta do valor da fiança, a família do brasileiro não pode assumir o débito milionário. As duas fianças foram estipuladas pela juíza Tina R. Ainley, da Corte Superior do Arizona.
Ricardo, por sua vez, tem a alternativa de assinar um documento de confissão e ser imediatamente liberado para responder em liberdade. Nesse caso, no entanto, ele seria deportado dos Estados Unidos e, provavelmente, nunca mais poderia ver seus filhos. Enquanto não é colocado um ponto final no drama, os pais do brasileiro tentam mobilizar autoridades. Ao candidato derrotado à presidência em 2008, senador John McCain, foi entregue recentemente um abaixo-assinado pedindo a libertação do brasileiro.
Pressão para confessar
Desde novembro do ano passado, o brasileiro Ricardo Azevedo está trancafiado em uma solitária na prisão de Yavapai, no Centro Oeste do Arizona.
Ele foi removido para o cárcere individual porque ousou levar à direção da prisão uma reclamação de maus hábitos de higiene contra o antigo companheiro de cela.
Mesmo com toda precariedade, Ricardo não cogita fazer acordo com a Justiça estadual do Arizona. Se assinar, ele fica livre do inferno da prisão, é deportado para o Brasil e a ação judicial é arquivada.
É assim que funciona a lei no estado Arizona. Incitado a confessar com frequência, o brasileiro já devolveu o documento em branco pelo menos 25 vezes. “Eles querem que ele confesse até para limpar a barra do promotor e da juíza que estão acompanhando o caso. Alguma coisa vai ter que acontecer porque o processo do Ricardo é repleto de falhas inacreditáveis”, desabafou Tita Azevedo Souza Costa, mãe do brasileiro, em entrevista ao Hoje em Dia.
Tita diz que a comunicação de Ricardo com a família se dá diariamente numa média de 15 minutos por dia por meio de uma ligação a cobrar pela internet com o auxílio do Skype. “Apesar de tudo, o Ricardo está muito sereno. Quem conversa com ele tem a impressão de que ele está deitado assistindo televisão e comendo batatinha frita”, relatou.Ela conta que as regras da prisão norte-americana são extremamente rígidas. Por dia, o brasileiro tem o direito de sair da cela por apenas 30 minutos.
Mesmo assim, não fica livre para contemplar o céu, já que os banhos de sol estão restritos a uma vez a cada 30 dias. “Ele não reclama de nada. A sua rotina é ler livros e desenhar”, disse. A última vez que Tita viu o filho pessoalmente foi há um ano. “No dia do julgamento estaremos todos juntos de novo”, acredita.
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